O incômodo é difícil descrever, uma sensação, um comportamento, um sentimento. Pode vir junto com raiva ou angústia. Mas sinaliza que não está como gostaria, no lugar onde desejaria estar.

É mal-estar, indisposição, sentir o próprio corpo estranho.

Me lembro da primeira vez que senti esse incômodo, ainda na adolescência. Sempre seguia todas as normas do manual da boa filha, disciplinada, com boas notas, e comportamento exemplar, mas por sempre seguir as normas que já estavam  postas, senti o grande peso de escolher minha carreira no  período de vestibular. Essa escolha não tinha no manual, e meus pais fizeram questão de me permitir seguir por mim mesma nessa escolha.

Foi nesse momento que parei para pensar que as maiores escolhas da minha vida, não era eu quem determinava. Minhas maiores conquistas não partiam de mim, era o prêmio no concurso de redação, o ingresso no time de handebol da escola, as boas notas, e tudo partia da imposição dos meus pais e determinação da escola.

A escolha pelo curso na inscrição do vestibular foi minha grande escolha, e eu não sabia por onde começar. Nesse momento veio o incômodo, não sei de onde pra onde, e eu nem sabia nomear aquilo tudo.

Esse incômodo que me confundiu e me gerou mil perguntas na adolescência foi o mesmo que me fez enfrentar os principais obstáculos da minha carreira, esta que eu escolhi seguir.

O incômodo instiga a mudança, nos permite sair do lugar comum, aquele onde nos acomodamos, nos habituamos. Gera questionamentos e permite escolha, produz movimento, energia.

O incômodo parece algo mágico, mas não é. Ele impulsiona, mas é apenas o fio da meada que conduz à tomada de decisão e o movimento para agir. Mas do fio da meada até o final, ou do incômodo à tomada de decisão, há o emaranhado de fatores a serem observados – riscos, amarras, nós.