Nem tudo o que é terapêutico será psicoterapia

O terapêutico não entra, necessariamente, nos campos da psicoterapia. No dicionário, o significado de terapia vem como cura de doenças. De fato, pensando as especialidades médicas, o terapêutico vai dizer da reversão de um quadro clínico. Quando se trata de outros campos de estudo, contudo, o terapêutico transborda as linhas de saúde-doença, como a fisioterapia e a educação física, por exemplo, que tanto tratam a reversão de quadros clínicos, quanto fazem trabalhos preventivos, de consciência corporal, bem-estar e qualidade de vida – tudo isso é muito importante e tem seu lugar, mas vamos esclarecer.


Quando se trata de psicoterapia, ou terapia psicológica, o primeiro ponto a se destacar é que um pilar fundamental é a ANÁLISE em processo, o que difere das especialidades citadas anteriormente. O foco não será doença-saúde, mas o processo analítico da pessoa (política, crítica, ancestralidade, família, sociedade, cultura, história, analista, etc).


A psicologia analítica vai pensar o percurso da psicoterapia em um processo chamado INDIVIDUAÇÃO, “isto significa que o paciente se torna aquilo que de fato ele é” (Jung, 2013, p. 21). E o que esse paciente é? O que sou/somos? Somos corpo cheio de células e estruturas com marcas sociais, históricas, culturais, arquetípicas, pessoais (conscientes e inconscientes); somos um todo delimitado por contornos; somos superfícies e profundidades.


Quanto aos objetivos da psicoterapia, Stein (2019, p. 27) fala de quatro estágios presentes ao longo do processo: confissão, elucidação, educação e transformação. Esses elementos acontecem ao mesmo tempo, trazendo aspectos de complexos individuais, arquetípicos e culturais, em um tempo não linear. “O objetivo da análise, é sair da dinâmica bipolar dos complexos autônomos para clarificar a consciência e libertar uma pessoa das respostas emocionais automáticas engendradas por elas” (STEIN, 2019, p. 28).


Em outra perspectiva, Aragon apresenta um olhar para a clínica em que propõe um fazer político, uma atitude ética, de escuta, ou seja, uma teia complexa em que o analista é parte ativa e afetada do processo. Clínica inesgotável e como encontro, conhecendo com cada sujeito as forças e fluxos presentes.

“O objetivo não é o de esgotar, ou mesmo de mapear exaustivamente as forças em jogo. Fundamental é acompanhar o movimento que se produz quando o habitual se rompe. Há emergência de novos sentidos, há produção de novas realidades. (…) Os novos sentidos são produções, e não um saber à espera de uma lente ou luz que o tornasse acessível. (…) Uma atitude clínico-política. Atitude de escuta. Escuta no sentido de abertura para ser afetado pelo que se produz no encontro” (Aragon, 2007, p. 33).

Atividades corporais, alternativas, espirituais, artísticas e sociais podem ser TERAPÊUTICAS e são muito importantes, inclusive como dispositivos em uma clínica; corpo e arte são clínica, mas não em sentido reducionista. A PSICOTERAPIA pode utilizar de recursos terapêuticos para facilitar o percurso entre soma, complexos, mecanismos de defesa, inconsciente(s), traumas, psicopatologias, clínica, política, ética, estética, encontro, escuta, etc.


REFERÊNCIAS

ARAGON, Luis Eduardo P. O impensável na clínica: virtualidades nos encontros clínicos. Porto Alegre: Sulina/UFRGS, 2007.

STEIN, Murray. Psicanálise junguiana: trabalhando no espírito de C. G. Jung. Petrópolis: Vozes, 2019.

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s