Em geral, a violência não choca, não incomoda. Seu silêncio passa despercebido, dá margem para que um esperto se faça de desentendido.
As violências vistas nas TV’s, Face’s ou nos campos de concentração, que chocam e horrorizam aos espectadores diariamente, os tiros em Paris, as torres gêmeas, os casos de família, são mera distração. Atuam como interlocutores no desvio da atenção.
A “violência sutil” também machuca e marca, não pode ser menos importante das imagens cinematográficas transmitidas nas telas de LED.
A violência silenciosa que habita as residências de milhares em todo o mundo e em diversas culturas está posta, independente da busca de explicações antropológicas e das neurociências, alimentada pela ignorância.
ignorânciasubstantivo feminino
1.estado de quem não está a par da existência ou ocorrência de algo.“i. dos fatos políticos” 2.estado de quem não tem conhecimento, cultura, por falta de estudo, experiência ou prática.“i. musical” 3.atitude grosseira; grosseria, incivilidade.“é de uma i. incrível no trato com as pessoas”Origem⊙ ETIM lat. ignorantĭa,ae ou ign o ratĭo,ōnis ‘falta de conhecimento, de saber’FONTE: Google.
No Brasil, o Ministério da Saúde vem implementando Políticas Públicas com intervenções diretas no que tange à violência. Pode passar na cabeça de alguns: “violência é caso de justiça, e não de saúde”.
A violência esta encrustada em nossa sociedade, e precisa ser olhada de forma ampla. As consequências estão nos bancos das escolas, nos centros cirúrgicos, nas filas de perícia médica previdência, e onde mais possa imaginar.
Com tantas ferramentas de informação, hashtags, não acredito que alguém vá compreender em essência esse fenômeno e encontrar uma solução, mas fica difícil (e até feio) utilizar uma desculpa pronta para fechar os olhos e fingir que não vê.
O Ministério da Saúde e os principais autores que falam do assunto separam em quatro grupos de naturezas de violência, para compreensão didática (e interface jurídica):
- Física.
- Sexual.
- Psicológica (farei um post específico falando a respeito).
- Autoinfligida.
Ressalto que:
Independente da natureza da violência, todas elas interferem na produção subjetiva da pessoa envolvida direta ou indiretamente, as marcas podem ser no corpo, ou as cicatrizes podem ser profundamente enraizadas no sujeito (e não e cicatricure que dê jeito nessas marcas profundas). Não há natureza de violência mais grave ou mais amena, elas são igualmente degradantes, no individual e no coletivo.
Alguém já viu um olhar violento? Eu presencie uma cena como esta há alguns dias, e isso me assustou – foi o que gerou meu incômodo para escrever.
Entrei em uma loja no centro da cidade, par olhar produtos de casa, e a vendedora atenciosa, me atendeu com um lindo sorriso, passando comigo pela loja, me dando dicas de utilitários domésticos, gesticulando como uma bailarina no palco, me provando que um amolador de facas é mais efetivo do que a tradicional pedra para afiar. Seu sorriso desmoronou no segundo em que um lindo e jovem homem entrou na loja. A vendedora olhou para ele como que sem esperar o que viria. Ele parou e olhou por toda a loja, procurando-a. Seu olhar cruzou primeiro com o meu, e ele sorriu, em seguida olhou para ela, mas já sem sorriso em lábios de ambos. Ela apertou com as duas mãos a xícara que me mostrava, e aguardou que o homem viesse ao nosso encontro. Ele me cumprimentou educadamente e olhou para a mulher com um olhar de quem confunde ódio, dor e amor. A vendedora se desculpou, colocou a xícara de volta no lugar, e no momento em que ela ia se virar para seguir até o balcão de atendimento, sem querer esquivou-se de que ele a pegasse por um dor braço com sua mão. Ela se apressou para sair logo dali com seu companheiro, que já começara a falar mais alto com ela no balcão, e os dois logo se retiraram da loja. A outra vendedora veio até mim, se apresentou, e se desculpou pela cena: “eles são assim mesmo. Tem dia que estão muito bem, mas tem dias… Ela gosta, também”.
Mas de toda essa cena, o que me chamou a atenção foi o olhar do homem para a mulher. E a apreensão como ela esperava aquele olhar do companheiro desde o momento em que o homem pisara porta adentro da loja. O olhar daquele sujeito determinaria a atitude e as emoções daquela jovem mulher. Não conhecia até então um “olhar violento”.
Vendamos nossos olhos e tratamos como naturalmente aceitável. O que nos assusta são apenas as “operações lava-jato”, “mensalões”, e os “tiros em Paris”. A violência pode ser mais sutil do que gostaríamos de assumir. Precisamos ser mais críticos, mais humanos e mais inconformados.
Não me venham como “ela gosta”, ou com “ele merece”. Somos condicionados a conviver com esses conceitos, da mesma forma como convivemos com conceitos de “políticos corruptos” ou de que “no Brasil nada funciona”.
E cuidado: nós mesmos podemos estar reforçando isso. Ignorantes, damos as costas, culpamos alguém, fingimos não ver nada.
violênciasubstantivo feminino
1.qualidade do que é violento.“a v. da guerra” 2.ação ou efeito de empregar força física ou intimidação moral contra; ato violento.“derrubou a porta com v.” 3.exercício injusto ou discricionário, ger. ilegal, de força ou de poder.“a v. de um golpe de Estado” 4.força súbita que se faz sentir com intensidade; fúria, veemência.“a v. de um furacão” 5.jur constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem; coação. 6.p.ext. cerceamento da justiça e do direito; coação, opressão, tirania.“viver num regime de v.”FONTE: GOOGLE