Mulher: Como identificar que você está sendo desrespeitada

Quando tratamos dos lugares do feminino em uma sociedade de modelo patriarcal como a que vivemos, inúmeras são as situações, falas, gestos e conceitos que envolvem uma imagem deturpada que diminui a mulher, mas na mesma medida são sutis, comuns e quase imperceptíveis, pois estamos há gerações habituados a reproduzir estes olhares.

Alguns atos podem ser sutis, outros mais visíveis, no que se refere ao desrespeito ao feminino, à mulher. Eventualmente, quem está próximo nós também reproduz discursos deste tipo, e precisamos ficar atentas aos sinais, e escolher como nos relacionar com essas práticas desrespeitosas, como as citadas abaixo.

Tirar sua autonomia 

“Não fica bem mulher ter amigo homem”, “não fica bem mulher trabalhar com atividades industriais”, “não fica bem uma mulher solteira ir para o cinema sozinha”, “não fica bem uma mulher não ter filhos”, “não fica bem uma mulher que escolhe não se casar”, “não fica bem uma mulher ser mãe solteira”, “não fica bem mulher não usar um batonzinho”, “não fica bem uma mulher magra demais”, “também não fica bem uma mulher que não cuida do marido”, “não fica bem mulher de roupa curta”, “não fica bem…”.

Sentenças como estas, tão comuns nos discursos individuais e nos ideias coletivos, tiram a autonomia da mulher, ferem sua imagem, humilham, degradam.

Nós mulheres crescemos ouvindo essas sentenças como conceito de verdade, o que tira nossa autonomia de escolher o que queremos, pois algo que fuja muito do ideal coletivo pode acabar por comprometer as oportunidades e a posição da mulher. Isso acaba por podar a possibilidade de exercer decisões autônomas, com base nos desejos, valores e crenças pessoais.

Culpabilizar

Já se sentiu culpada por ser quem é, ou por desejar ser quem quer?

Isso é muito comum quando se considera o tópico acima, em que a mulher é colocada em uma posição coagida a seguir os padrões sociais em detrimento a suas próprias escolhas.

Na verdade, a mulher vive tanto esses discursos que acaba naturalizando os conceitos tão presentes em nossa sociedade, e se culpa quando foge deste padrão, sofre de culpa.

A mulher assume culpas que não são delas: quando a criação dos filhos não sai de acordo com o esperado, quando o marido resolve se divorciar e se relacionar com outras pessoas, quando encontra barreiras no mercado de trabalho, quando não concilia vida pessoal e profissional, quando o trabalho doméstico é um fardo,  quando não é uma super-mulher. Essas culpas não são da mulher. Não são culpas.

Objetificar seu corpo

Esse tópico é um dos que mais me incomoda, e farei um tópico apenas sobre ele.

A gente não TEM um corpo, a gente é um corpo, é tudo o que temos, e isso não é qualquer coisa.

A objetificação do corpo e da sexualidade feminina é tão nociva às próprias mulheres quanto à sociedade. Objetificar é tratar como se fosse um objeto, sendo que, na verdade, nós somos nosso corpo.

Na objetificação do corpo da mulher, os desejos, vontades, opiniões, são aos poucos mutilados, e esta deixa de ser um sujeito no mundo para ser um produto (de tudo o que é imposto, em detrimento de seus próprios valores). Diria até que esses valores sequer são cogitados, pois muitas mulheres já crescem acreditando que são “coisas”, como máquinas que servem para embelezar a casa e dar prazer ao macho.

Parece exagero? Pense se você já ouviu alguma das sentenças abaixo:

“O que o homem não encontra em casa, vai buscar na rua” / “A boa mulher tem que saber cuidar do marido” / “É muito bonita para ser inteligente” / “Para conseguir essa boa posição profissional, deve ter feito boas posições na cama do chefe” / “Mulher e casso, quanto menos rodado melhor” .. etc etc etc.

Não gosto de dar mil exemplos, pois eles são são corriqueiros e me incomodam de uma maneira inexplicável. Mas o que essas sentenças têm em comum? Subestimação da capacidade feminina em ser algo além de uma máquina de cuidar da casa e da família patriarcal.

Impor crenças sobre habilidades e responsabilidades decorrentes do gênero

Fazer faxina como uma mulher, dirigir como um homem, delicada como uma mulher, forte como um homem. Não existem habilidades inatas ao gênero. Mas vamos refletir o seguinte: desde crianças aprendemos que há brincadeiras de meninos e brincadeiras de meninas, e nesta fase a motricidade está em formação. Estimulamos habilidades diferentes conforme aprendemos na infância, e passamos a nos desenvolver com maior ou menos facilidade na realização de determinadas atividades.

Não há habilidades inatas entre os gêneros, tampouco responsabilidades prévias. Imposições neste sentido violam os desejos e possibilidades de escolha da mulher.

Praticar violência de gênero

Um pouco mais extremo, mas as estatísticas comprovam, com números alarmantes, que é uma realidade comum.

Segundo a Lei 10.778, de 2003 (sim, essa lei está debutando!), ” entende-se por violência contra a mulher qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, inclusive decorrente de discriminação ou desigualdade étnica, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público quanto no privado”.

Denunciar quaisquer formas de violência contra a mulher não representa sinal de fragilidade, mas de luta e força contra mecanismos desumanos de arranjo social/conjugal.

Nenhuma forma de violência é justificável (nem aparência física, nem formas de se vestir, nem formas de falar, nem relacionamentos).


Nós mulheres lutamos por muitos anos por alguns direitos, mas precisamos ainda estar atentas e impor o respeito.

Não podemos dar de ombros e dizer que tanto faz: estamos falando de nós e do nosso espaço. Tampouco podemos nós mesmas reproduzir tais discursos como sendo algo que não faria diferença: sejamos justas conosco.

Se você atualmente se sente desrespeitada, encontre seu lugar, imponha seu lugar, fale a respeito, procure ajuda, e encontre a si.


Não podemos aceitar nenhum tipo de violência!

 

07-03-2018

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