quando implica em mudar vidas.
Não foram poucas as vezes em que respondi que “é apenas trabalho” quando me perguntaram se eu estava bem no meu emprego.
Recentemente, quando mergulhei na psicologia e na gestão de desenvolvimento de pessoas, na área corporativa, comecei a me sentir diferente em relação a esse conceito. Não se trata apenas de um mero emprego. Quando uma pessoa busca terapia ou desenvolvimento, ela está buscando tornar-se melhor, e algumas vezes é a última tentativa para uma perspectiva positiva da vida.
O que me despertou esse pensamento foi um raciocínio do meu noivo, que também trabalha com vidas, mas no contexto completamente oposto ao meu. Ele é policial militar atua em operações, ou seja, onde há crise, onde há crime, onde ele recebe tiros [no sentido mais desesperador que isso pode soar para mim, que sou sua companheira]. Foi ele quem me chamou a atenção com curtas palavras, em um tom de voz bem sereno.
Quando em chego em alguma operação, geralmente é no contexto de matar ou morrer. Não é só um trabalho. Eu preciso ter raciocínio lógico e analítico para saber se atiro, se me esquivo, ou se simplesmente não faço nada. O fazer nada também é uma ação quando se trabalha com vidas. Com você não é diferente. Não é só um trabalho.
Depois de ouvir isso, esse tapa de luva, como deita a cabeça e dorme? Precisei sentar, escrever, bater notas soltas no violão, escutar o silêncio do travesseiro. Ele tinha razão. E isso me favoreceu a ampliar meu olhar no que se refere ao outro, no âmbito pessoal e profissional.
Há duas semanas, encerrando um processo de Orientação Profissional, recebi um feedback que me deixou estasiada. Minha cliente, que entrou pela primeira vez no escritório sem saber em qual direção olhar, sem fazer contato visual, falando tão baixo como que para ela própria, saiu da última sessão com seu relatório em mãos, sorridente após um treino de entrevista de emprego, sorriu ao fim e me agradeceu, pois ela ainda não sabia qual profissão seguir, mas disse que
Eu percebi exatamente o que eu não quero, que pode ser justamente o que o mercado poderá me ofertar. Mas eu aprendi a sonhar, e descobri quem sou eu. Tenho desejo e potencial para fazer o que eu quiser, e o que eu quiser, eu não quero mesmo saber agora. Eu só quero curtir essa pessoa que eu passo 24 horas ao lado e não conhecia, eu mesma!
Pensa na alegria inenarrável de um retorno desse tipo. Como eu pude contribuir positivamente naquela vida, e tudo o que ela tem pela frente.
E quantas outras vezes ignoramos nossa capacidade de fazer diferença ao outro, pensando que é apenas um abraço de até logo, ou um telefonema no aniversário. Estou falando de seres humanos, portando, pequenas palavras e gestos podem impactar a vida.