Sou psicóloga, e não é incomum me procurarem para um conselho. No primeiro contato, em um primeiro acolhimento. “Me dê seu conselho: o que faço?“.
Sou psicóloga, e atuo na missão de promover a produção de análises. Promover, não analisar.
Faço inferências, crio hipóteses, traço junto o percurso da pessoa à análise. Esse é meu papel.
No entanto, não nego conselhos, mas também não dou respostas. Quando me questionam o que fazer, eu aconselho: “produza sua resposta no entre“.
Sim, conheço muitas pessoas que passaram por situações semelhantes e conseguiram o melhor resultado, mas conseguiram justamente por produzirem seu próprio caminho. O que funcionou para uma pessoa não necessariamente atenderá para outras. Não há fôrma nem fórmula mágica.
Nossa sociedade é acostumada a buscar por soluções imediatas. Dor de cabeça? remédiolenol*. Preciso estudar para concurso? remédiolina*. Preciso emagrecer? remédioralina*. Até a comida vem pronta e não precisa de preparo algum (e não é mais saudável do que a refeição mais natural preparada em casa sem condimentos industrializados).
Enganam-se! Não estão solucionando de forma rápida, mas postergando, empurrando com a barriga, varrendo para debaixo do tapete. Adia-se a solução, omitindo as causas.
Busca-se a cura pulando o percurso necessário para alcançá-la. Ninguém quer o entre, o caminho, e é justamente aí que se constrói o resultado final para o que tanto deseja.
O conselho seria esse fármaco para a situação conflituosa, a resposta ou fórmula para solução rápida do problema. E assim como o fármaco é um agente externo, omite o sintoma, mas não trabalha a causa; a ausência desse agente permite o retorno do sintoma.
O entre pode ser longo ou curto, rápido ou extenso, doloroso ou prazeroso.
Meu conselho está aí, para quem precisar, a qualquer hora. Nem sempre há caminhos fáceis, e o que alguns chamam de sorte poderia ser como confiar no mero acaso, que pode ser favorável ou não.
O maior tempo de nossa existência nesse mundo passamos no entre, no percurso, no caminho, e não colhendo os frutos. Viva e valorize esses momentos. Há dores, mas há muitos sabores.
Ainda que seja difícil passar por esse trajeto, se não houver perspectiva de colher fruto algum, se as coisas não estiverem nada bem, meu conselho permanece o mesmo. Procure alguém que possa te ajudar, e produza sua resposta no entre.
*Em hipótese alguma estou recomendando medicamentos, mas ilustrando a prática corriqueira de automedicação em nossa sociedade, especialmente nas grandes cidades. Prática essa que reprimo e abomino.