Ouço diariamente, seja quando me apresento como Psicóloga, ou no papel de recrutadora, pessoas afirmarem que “são” ansiosas.
Com uma ou duas perguntas consigo identificar que essa ansiedade trata-se não mais de uma expectativa diante de uma situação importante, e desconstruo esse conceito. Raras vezes me deparo com alguém que apresente indícios de um transtorno de ansiedade (e nesses casos procedo com acolhimento e orientação).
No entanto, nossa sociedade vive sim uma ansiedade generalizada, um mal estar coletivo (nos termos de Bauman).
Estou na reta final da conclusão da especialização em Administração de Empresas, e há pouco mais de um mês, dei início a formações de curta duração na área de psicologia, afinal de contas, estava me dedicando apenas à elaboração do meu trabalho de conclusão. Ontem, data da apresentação do trabalho, conversando com colegas a respeito dos planos de cada um, notei que alguns já estão matriculados para um MBA que se inicia no final da semana, outros pretendem iniciar outra formação no início do próximo ano, e aqueles que não tinha essa pretensão manifestada claramente, mostravam na linguagem corporal o desconforto em falar do assunto. Houve quem manifestasse a sensação de estar parado no tempo por não ter ainda uma meta quanto a continuidade da formação.
Não quero dizer que as pessoas devam acomodar-se, estou longe de pensar assim, mas fiquei um pouco assustada com essa pressa, essa ânsia em se mover, um certo medo de ficar para trás, e como tudo isso produz uma inquietação.
Sem apontar o que está certo e o que está errado, porque não se aplica na situação é necessário que cada um entenda o ritmo individual, o coletivo, e pensemos constantemente a respeito de aonde queremos chegar, de que forma a próxima formação vai ser aproveitada, o ritmo que queremos seguir.
Digo por mim, como me sinto incomodada quando percebo que estou fazendo apenas uma coisa em paralelo ao trabalho, à pós graduação, e à musculação. Ainda tenho tempo suficiente entre meia noite e cinco da manhã. E por isso meu constante exercício de avaliar a real necessidade de não esperar, para não tropeçar nas próprias pernas.
Voltando em Bauman, autor que voltei a ler recentemente, e creio que não deveria ter parado de lê-lo, vivemos naquela sociedade de consumo das coisas descartáveis. Nossos aparelhos de telefone tornam-se obsoletos assim que saímos com ele da loja, outros dez modelos superiores estão sendo lançados no mercado no mesmo momento. Nossos sentimentos e emoções são descartáveis, e não raro temos exemplos de situações em que as pessoas são tratadas mesmo como objetos (na micareta, na boate, no mercado de trabalho). Nossas qualificações também são líquidas, portanto esse medo do tornam-se obsoleto – e é a realidade de quem não se atualiza.
Destaco, ainda, a infinidade de possibilidades que temos na atualidade. Na década de 80, quando minha mãe foi escolher a profissão dela, no ensino médio (ginásio), ela tinha opção de optar por magistério, contabilidade e enfermagem. Atualmente, quando digitamos no Google a palavra “qualificação”, encontramos mais de um milhão de resultados. E se jogamos “qualification“, não esperamos menos do que quinhentos milhões de resultados – e sim, podemos fazer formação em outros países sem dificuldades. E só de escrever a respeito despertei o desejo de fazer essa busca mais tarde.
Bom, você é ansioso? Eu também sou!
*hoje o assunto é a sensação de ansiedade. Posteriormente vou tratar sobre o Transtorno de Ansiedade.
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