Sentei na praça de alimentação para tomar um café, na mesa ao lado um grupo de cinco estudantes:
– Esse aqui é para ansiedade, eu sempre tomo na semana de provas.Mas também tomo esse aqui pra déficit de atenção, para ficar acordada até tarde para estudar.
– Esse aqui (ansiolítico) eu tomei pra emagrecer. Não sabia que era bom pra fazer provas. Acho que vou conseguir uma caixa também. Sempre bom ter.
– Eu só tomo esse aqui ó. E se quiserem eu consigo receita, só me falar.
– Nossa, eu não tô nada disso não. Tenho medo.
– Você tem medo? Pra estudar você tem, mas pra ir pra academia você toma aquele monte de bombas, que eu sei.
O pior foi a parte em que ouvia cada uma daquelas falas achando tudo normal, todos fazem uso de medicamentos sem o critério necessário, e continuei folheando meu livro normalmente. Outro colega chegou com as bandejas cheias de hambúrgueres, e voltou ao balcão de uma das lanchonetes no local para buscar copos de refrigerante gigantes. Na mesa já havia uma torre de chope.
Foi aí que parei para me questionar: essa não deve ser a conduta normal. Drogas de uso controlado possuem efeitos colaterais e precisam ser ministrados por um médico especialista, para pessoas que tenham diagnosticados doenças em que tais drogas se façam necessárias.
Essa prática tem sido tão comum, que já é possível ver algumas pessoas anestesiadas diante da vida. Desaprendemos a sentir dor, controlamos nossas emoções e regulamos até mesmo a produtividade. E o apetite, que há quem queira aumentar e quem queira inibir.
Estou me referindo a drogas legalizadas, que são vendidas em quaisquer farmácia, mas que o uso tem sido indiscriminado para regular a vida conforme as cobranças sociais determinam.
Nossa sociedade não quer perder tempo, e a produtividade deve acontecer no máximo limite.
Considerando que sou uma pessoa sem nenhuma síndrome ou transtorno, imagine que preciso estar ligada no 220 v para um evento social, chegar em casa à noite e ter uma noite de sono completa, e no dia seguinte dispor minha concentração e foco para as atividades acadêmicas, sem tempo a perder com a decepção do fim do meu casamento, e conciliando atividades da empresa + atividades da minha consultoria + rotina acadêmica, e preciso perder peso com urgência para caber em um vestido no mês que vem, e as dores de cabeça sempre me perturbam no início da manhã e no meio da tarde..
- Quantos medicamentos caberiam a mim nessa situação para regular tantos humores?
- Utilizando medicamentos para amenizar cada um desses aspectos, o quanto deixei de enfrentar minha própria vida?
- Por quanto tempo meu corpo irá aguentar ser controlado por drogas, sem que eu enfrente o que se passa?
Medicamentos também produzem doença, não apenas a cura. A dor é temporariamente anestesiada, mas o corpo pede vida vivida, cedo ou tarde ele gritará por socorro, e quando ele gritar, algumas funções podem não responder na mesma velocidade.

Que tal parar, desacelerar, olhar no espelho, fazer escolhas, tomar decisões, viver o luto, resolver problemas? Que tal viver?
[…] Estão todos se drogando […]
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