
Segundo Beatriz Nascimento (2018, p. 274) “Um movimento de âmbito social e político (…) trata-se do quilombo (kilombo), que representou na história do nosso povo um marco em sua capacidade de resistência e organização”.
No artigo “O conceito de quilombo e a resistência cultural africana”, Beatriz Nascimento faz um percurso histórico, apresentando os primeiros quilombos em Angola, já no encontro com a colonização portuguesa na região, e, posteriormente, com o sequestro e envio dessa população para o Brasil, os quilombos também passam a se organizar no período colonial, expandindo-se com o encontro das populações de Angola e de algumas outras regiões do continente africano, e também da população Brasileira que habitava o país antes da invasão e também fugia da morte que as forças portuguesas/jesuítas impunham.
No período colonial, o quilombo se caracterizou pela formação de grandes Estados, como o da Comarca do Rio das Mortes, em Minas Gerais, desmembrado em 1750
Beatriz Nascimento (2018, p. 282)
As pesquisas desenvolvidas por Beatriz Nascimento, e também por Abdias Nascimento, evidenciam os quilombos como estruturas políticas e econômicas organizadas em moldes próximos às estruturas coloniais, mas onde havia a possibilidade de resistências por meio da dança, dos cultos religiosos, da música, e de expressões de linguagem que podiam resistir com o tempo. O surgimento do Candomblé advém deste contexto.
A resistência linguística proporciona o nosso pretoguês, assim denominado por Lélia González.
No final do século XIX, o quilombo recebe o significado de instrumento ideológico contra as formas de opressão. (…) Esta passagem de instituição em si para símbolo de resistência mais uma vez redefine o quilombo. (…) É como caracterização ideológica que o quilombo inaugura o século XX. (…) justamente por ter sido concretamente, durante três séculos, uma instituição livre e paralela ao sistema dominante, sua mística passa a alimentar os anseios da liberdade da consciência nacional.
Beatriz Nascimento (2018, p, 289)
Mesmo após a abolição documentada, o colonialismo persiste em práticas cotidianas. O quilombo como campo ideológico representa uma forma de resistir a esses lugares.
(…) o quilombo volta-se como código de reação ao colonialismo cultural, reafirma a herança africana e busca um modelo brasileiro capaz de reforçar a identidade étnica
Beatriz Nascimento (2018, p, 291)
Desta forma, podemos pensar novos quilombos mesmo na atualidade, como lugares de fuga das imposições sociais e culturais e das violências concretas e subjetivas proporcionadas pelos modos de vida dos capitalismos neoliberais e suas tecnologias. Além disso, os quilombos permitem construções de possibilidades de resgate étnico, construção de saberes dos nossos povos, resgate de memórias que nossos corpos podem contar.
A gente troca a solidão e os isolamentos que essa sociedade demanda, para produzir fugas para os quilombos.
REFERÊNCIAS:
NASCIMENTO, Beatriz. Beatriz Nascimento, quilombola e intelectual: possibilidades nos dias da destruição. Diáspora africana: Editora Filhos da África, 2018.