A gestação é um de comemorações e muita alegria, mas é inegável que também seja um período extremamente conturbado, seja por aspectos hormonais ou sociais, repleto de mudanças e escolhas, podendo naturalmente ser um período de alterações de humor.
Segundo estudos na área de psicologia, as mudanças pelas quais a mulher passa chegam a incluir aspectos fisiológicos, psicológicos, sociais e familiares, e, ainda que haja uma alegria e expectativa em torno da gestação, as mudanças provocadas na vida da mulher e seus relacionamentos são extremamente significativas. (ARRAIS, CABRAL e MARTINS, 2012).
A prevenção à saúde mental da mulher pode se fazer importante para apoiar na passagem por esse período conturbado e importante, e que tenha condições de adaptar-se ao novo modelo de vida, realizando escolhas e tomando suas responsabilidades. Além disso, é uma forma de prevenção de transtornos e episódios de sintomas ansiosos e depressivos, por exemplo.
Autoconhecimento
Quanto mais a pessoa se conhece, mais fácil se dá a identificação de sinais de alterações. Parece matemática, mas o autoconhecimento vai um pouco além desta equação, como falei um pouco em um post dedicado.
No processo de autoconhecimento, a pessoa percebe com maior clareza a si e ao que está em seu entorno, sendo capaz de estabelecer escolhas com foco no positivo e minimizando escolhas conflituosas.
Em um período de tantas transformações, inclusive na forma de pensar e tomar decisões, o autoconhecimento se faz ainda mais importante para a descoberta e criação de novas formas de ver o mundo e viver a vida.
O autoconhecimento empodera a pessoa, pois ela passa a conhecer suas potencialidades e seus limites e ter mais clareza na tomada de decisão, hábil para reconhecer o que melhor compõe com seu corpo.
Prevenção à depressão pós-parto
Segundo Dalgalarrondo (2008, p. 307), as síndromes depressivas caracterizam-se por humor triste e desânimo, com alterações de importantes funções, som presença de sintomas afetivos, alterações ideativas, alterações da esfera instintiva e neurovegetativa, dentre outras.
Arrais, Mourão e Fragalle (2014) afirmam que as mulheres, no período de gestação e pós-parto encontram algum nível de sofrimento psíquico decorrente de conflitos, além da redução da capacidade de sentir prazer.
É fundamental que um trabalho de prevenção à saúde mental trabalhe para reduzir as chances de que estes sinais tornem-se crônicos. O trabalho de prevenção, diagnóstico e tratamento de quaisquer sintomas somente podem ser realizados por profissionais capacitados para isso.
A tristeza e melancolia não significam que a pessoa possui depressão, mas estes podem ser sinais de alerta quando somados a outros sintomas. Um médico especialista pode fazer um diagnóstico e tratamento assertivo.
Gravidez e ansiedade
A ansiedade pode aparecer em vários momentos durante a gestação, desde o dia da descoberta, o momento de anunciar a algumas pessoas, a véspera de um exame importante, antes de uma tomada de decisão.
O que é importante destacar é a forma de manifestação da ansiedade no corpo, e o momento em que aparece.
Dalgalarrondo (2008, p. 304-306), ao falar dos sintomas de ansiedade, cita o conjunto de sinais que eclodem fisicamente do corpo da pessoa, e eventualmente podem ser confundidos com outros sintomas físicos, com manifestação no corpo mesmo, que eventualmente a pessoa possui dificuldade em explicar o que é.
O trabalho preventivo à saúde mental sempre importante para apoiar a mulher gestante nos fatos e mudanças que conturbam este período, e auxiliar na percepção dos sinais e sintomas que podem surgir.
Lembrando que, o trabalho de prevenção, diagnóstico e tratamento de quaisquer sintomas somente podem ser realizados por profissionais capacitados para isso.
Se permita ser prioridade
Quando a mulher fica grávida, todos os holofotes direcionam-se para sua barriga, sua cria, sua gestação, feto, bebê. Contudo, é muito importante que a mulher em gestação se coloque como prioridade, considerando que a partir daquele momento há um novo ser que depende dela, que faz parte do seu universo, mas seu universo não se resume apenas a este filho.
Não sinta culpa pode se colocar no lugar de prioridade, e não é incomum que isto aconteça. É importante que a mulher seja prioridade em alguns momentos, ao cuidar da sua saúde e bem estar.
A mãe terá uma nova responsabilidade, de cuidar de um novo ser, mas isso não significa que seu cuidado fique em segundo plano.
Referências:
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008.
ARRAIS, Alessandra da Rocha; CABRAL, Daniela Silva Rodrigues; MARTINS, Maria Helena de Faria. Grupo de pré-natal psicológico: avaliação de programa de intervenção junto a gestantes. In: Encontro revista de psicologia. v. 15. n. 22. 2012.
ARRAIS, Alessandra da Rocha; MOURÃO, Mariana Alves; FRAGALLE, Bárbara. O pré-natal psicológico como programa de prevenção à depressão pós parto. In: Saúde e Sociedade São Paulo. v. 23. n. 1. p. 251-263. 2014.