Sobre chegar ao pódio

Talvez o esporte tenha sido uma das formas utilizadas pelos meus pais para me ensinar a ter disciplina, e funcionou. O que não significa dizer que sou uma atleta nata.

Na verdade tive vários momentos bons e ruins com o esporte. Quando criança, vivia assistindo a jogos de futebol com meus pais (que são flamenguistas fanáticos). Assistia pela TV, já fui ao estádio, curtia adrenalina, acompanhava as tabelas dos campeonatos, e, pasmem: sei de cor até hoje a escalação do flamengo campeão mundial de 1982, que meu pai me ensinou a escalar. Deixei de gostar disso tudo na adolescência e a formação de um senso crítico.

Ainda lembrando da infância, meu pai sempre me impunha a realização de tarefas fora da escola, gostando delas ou não. Tinha o curso de inglês, que eu amava, tinha o dia de brincar com os colegas na rua, que era o ponto alto da semana, e tinha os dias dos esportes. Dentre as modalidades disponíveis na escola, escolhi o handebol, e talvez tenha sido este o momento que passei a afirmar para mim mesma o quanto eu odiava esportes, pois eu era muito ruim (tipo a pior do time). Mas eu não podia largar o time. Segundo os moldes de educação que eu estava inserida, era preciso fazer coisas que não gostava para ter resultados que eu gostava – concordando ou não, minhas grandes amizades eram do time, aprendi a ter espírito de colaboração e competição, aprendi a errar e trabalhar para corrigir, aprendi a perder e suar para reverter o placar e vencer, desenvolvi coragem para falar em público (moderadamente na época), e comecei a conhecer meus próprios limites. Meu pai não me deixou abandonar ao time no meio do torneio, embora eu tivesse chorado para sair de casa para os jogos.

O esporte me ensinou alguns pontos extremamente valiosos que cada um daria um artigo dedicado, mas aqui vou falar sobre motivação.

Famosa teoria da Pirâmide de Maslow mostra como a motivação, em níveis mais primitivos, estão ligados à sobrevivência (comida, água, sexo, que mantém o corpo funcionando). No entanto, essas motivações sanadas, o ser humano passa a buscar outras fontes de prazer. Sendo estas outras demandas sanadas, procuramos ainda mais outras formas de saciar nossos desejos. E isso não têm fim, é o que nos #motiva a colocar um despertador e levantar da cama para fazer o que quer que seja.

No caso do esporte, inicialmente eu tinha uma relação motivacional ligada ao afeto com meus pais (flamengo). Em segundo momento, já confiante do afeto deles, minha ligação com o handebol foram minhas amigas da escola, era o esporte que elas praticavam, e eu queria estar inserida naquele grupo. Já com meus laços de amizade constituídos, o handebol já não era primordial para mantê-los, e eu queria muito abandonar após um torneio municipal, pois eu não tinha habilidade.

Em 2010 foi a primeira vez que pisei na academia para fazer musculação, e eu não imaginei que me apaixonaria tanto. Neste momento, minha motivação era estética, meu corpo naturalmente magrela não me fazia satisfeita, e este esporte seria uma excelente alternativa. Após dois anos, após me mudar de estado, busquei uma academia na nova cidade com outra finalidade: com a diferença cultural e de rotina, acabei engordando muito no período de mudança, e não tinha nenhum amigo na cidade. A academia seria o elo entre um possível emagrecimento e o contato com novas amizades na nova cidade.

Um ponto fica claro até aqui falando das diferentes motivações: parte de mim para as ações, e não do outro para mim. Ou seja, não há um agente externo que planta motivação na cabeça da pessoa, embora ainda tenha muita gente que venda palestras motivacionais. Eu mesma já assisti a várias. Mas quaisquer ações motivacionais só poderão ter sentido se naquele contexto houver algo na vida e na história da pessoa que a faça motivar a fazer algo.

Observe como eu tive o handebol que eu odiava (não fazia sentido mais na minha vida, eu era péssima!), e a musculação que me motivou de formas distintas em momentos diferentes. O estímulo motivador era meu. A ausência do estímulo motivador no handebol também era meu.

Minha primeira experiência com a corrida foi desastrosa, em 2013. Estava retornando para a cidade natal, morando próximo da praia, visual perfeito para praticar esporte ao ar livre. Comecei sozinha, sem orientação, e gerei inflamação dos dois joelhos. O médico do esporte me receitou o que? Musculação!

E a musculação, nessa época, me tomou de paixão. Eu cheguei no máximo do meu limite nesse esporte, e senti desejo de me desafiar em algo novo em paralelo.

Em 2016 comecei a correr com meu então noivo (que é militar e pratica corrida desde muito tempo). Após três meses de treinos de corrida, participei da minha primeira prova, na minha cidade mesmo. Qual foi o resultado? 1º lugar na minha categoria.

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Corrida São João (Aracruz/ES) – Junho/2016

Eu vi que valei a pena ter me desafiado, que eu consegui alcançar algo novo, e que eu adaptei meu corpo a outra modalidade.

O ser humano é plástico, se adapta a desafios, condições climáticas, contextos laborais, desde que haja fatores que motivem a pessoa a passar por aquele percurso.

Para chegar ao topo desse pódio, não foram apenas três meses de treino de corrida, foi o preparo físico construído ao longo de uma trajetória no esporte, foi a minha expectativa de concluir esses 7 km, foi o incentivo de quem estava ao meu lado. As pernas doíam entre os km 2 e 3, e eu quis parar antes da metade. Se essa dor tivesse me parado eu não sentiria a delícia de concluir a prova, e, menos ainda, a grande realização de subir no lugar mal alto. Nesse pódio tinham treinos, tinham amores, dores, histórias, risos.

Eu queria ir mais longe e mais rápido, mas fiquei mais de um ano sem participar de novas provas. Nesse meio tempo, também me apaixonei pelo Jiu-Jitsu, mas isso é outra história.

No domingo, 06/08/2017, anteontem, eu participei de minha segunda prova, Corrida SESI do Trabalhador. A principal motivação para me inscrever para essa corrida, seria um treino para as 10 Milhas Garotos, que vai acontecer no próximo mês.

Essa prova que participei no domingo eu curti, perto do mar, sol quente, foi um fim de semana bacana na casa da minha prima. Mas várias vezes durante a prova eu pensei que o pódio poderia ser uma opção, pelo menos na classificação por idade, pois os atletas de elite que fossem premiados na classificação geral não receberiam esta segunda premiação. E minha idade está acima dos atletas de elite (sou velha!). Senti as pernas doendo, mas já conheço meu corpo, e sei que no terceiro km esse desconforto é normal e passa antes do quinto km. O momento mais desafiador foi após a metade da prova, quando o sol ficou bem forte, e sob o suor da minha pele, me fazia sentir como se tivesse com o rosto em brasa.

Após concluir, aquela emoção de colocar a medalha no peito e saber que sim, sou capaz de mais, e quero ir mais além. Após ficar uns minutos sentada, incrédula por ter superado o tempo que vinha fazendo nos treinos, fui retirar meu kit, peguei um picolé, e fui andando para a tenda que oferecia alongamento e massagem aos atletas. Ainda na fila chamaram meu nome no microfone, e eu parei estasiada, incrédula, paralisei.

Estava novamente no pódio. 5º lugar entre as mulheres que correram a prova de 10 km.

Não sou profissional do esporte, nem pretendo ser. O esporte é meu lazer, minha diversão, minha conexão com meu próprio corpo. É quando eu me desligo da rotina cansativa de trabalho, onde meu único limite sou eu mesma.

Mas, ainda que não seja minha atividade econômica, é necessário treino e  dedicação, organização com meus horários, pois tenho dois vínculos de trabalho e outras atividades, casa, família, desafios, e toda a falta de tempo que é tão comum aos nossos pares.

Para meu treino render o que preciso, eu preciso de método, não é só calçar o tênis e sair correndo por aí.

É necessário, sobretudo, autoconhecimento. Quem sou, o que quero, o que posso, o que devo, quem mais é afetado. Apenas fazendo constantemente essas perguntas e organizando periodicamente minha rotina é possível exercer a dedicação mínima para alcançar esses resultados.

Faz sentido para você?

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